segunda-feira, 23 de abril de 2007

Sem Carimbos


Deixo vocês com o texto maravilhoso da Rosana Hermann:


Somos todos inseguros.
Estamos sempre tentando provar a mesma coisa: que valemos a pena. Que somos bacanas, modernos, que demos certo na vida. Que merecemos estar aqui.Para oferecer provas a esse mundo que nos cobra diariamente, usamos de muitos artifícios como a aparência física e a cultura. Mas o conjunto de provas mais eficiente são as assinaturas que usamos.
Uma das mais famosas é o sobrenome que você usa, aquele que a empresa empresta para você. João da Microsoft, Maria da Globo, Ricardo da Vogue. Sobrenome de empresa é sempre forte. Mas passa.
Por isso as pessoas preferem sobrenomes que elas possam adquirir com seu dinheiro: as assinaturas de griffe.
Seu carro é uma assinatura. Ter uma Cayenne, uma Hilux, uma Ferrari, um Jaguar, são indicadores de triunfo.
Mas não basta ter dinheiro.É preciso ter bom gosto e bons amigos.
Bom gosto você compra com griffes para sua casa, por exemplo. Um objeto Philippe Starck, por exemplo, mesmo que seja só um espremedor de laranja, é um bom começo. Objetos de arte. Móveis assinados. Tudo conta.
E, claro, roupa, relógio, bolsa, etc. Até uma revista como a Caras dá o nome dos estilistas que assinam os vestidos de festa das celebridades.
São as assinaturas.
Lá vai você, ou eu, ou todos nós, andando com nossos logos, griffes, etiquetas. Orgulhosos, indicamos nossos prestadores de serviços carésimos para ostentar. Dentes by Dentista Fulano, cirurgias estéticas feitas por outro fulano, cabelo pelo Studio Tal, jóias de não-sei-quem.
É preciso também freqüentar. Ser convidado para festas de pessoas bem assinadas. Ser cool. Sair com pessoas descoladas. Ter o celular pessoal de gente chique. Fazer parte do mailing VIP de promoters badaladas.
É como se precisassemos de todos esses carimbos como 'vistos' de entrada e permanência no planeta Terra. Ou no topo da pirâmide social.

Mas quer saber? Não precisamos de nada disso.
Isso é coisa de quem acredita em criar dificuldades pra vender facilidades.
A gente não precisa de aval. Pode até comprar, gostar, curtir mas não precisa desses produtos todos.
Precisamos de muito pouco. E, considerando-se que não vamos levar nada faz mais sentido viver com pouco mesmo.
Compre pouco, use pouco, gaste pouco.
Não desperdice. Não ostente. Não tente ser mais do que você é. Não coma mais do que seu corpo precisa. Não tenha mais roupas e sapatos do que você necessita. Não colecione bobagens. Livre-se de tudo. Do peso, do medo, das marcas, das bengalas consumistas. Não tenha medo de ficar sem. Da privação. Do nada.
Experimente ser apenas você. Sem artifícios, sem sacrifícios, sem mentiras. Nem que seja só por um dia, uma vez, só nas férias. Aos sábados.
Mas tente descobrir quem está por baixo de todos os seus planos e intenções, das suas vestes, das suas fantasias, máscaras ou armaduras.
Talvez exista alguém melhor do que você imagina. Mais doce do que você pensa. Mais amável do que você tem sido.
Se der pra deixar o ego na segunda gaveta e sair à pé, melhor ainda.
Aprecie a paisagem.
Respire fundo.
Sorria.
Mesmo que você não esteja sendo filmado.
Estar vivo já é o sucesso.


Texto copiado do blog da Rosana Hermann: http://queridoleitor.zip.net/
Ilustração: Lilla

3 comentários:

Rafael Pinheiro disse...

olá querida. precisava muito ler isto, por mais que já saibamos de tudo isso , é bom , de tempos em tempos ouvir tudo de novo...que somos bem mais do que tudo isto. é ou não é? é. estou cansado hoje e precisava ouvir isso. beijos

Diva disse...

Olá, conheci hoje seu blog. Gostei demais do seu comentário no blog so não consegue quem desiste, da Larissa. Concordo com td que vc disse, mas fiquei meio intrigada de ver que aqui no seu cantinho vc faz muitas citações, muitas mesmo, e fala pouco de você mesma, sabe? Gostei tanto do que vc faloulá que senti falta aqui! Bota pra fora seu talento! Muita força e bjos pra vc. Diva. Me visita!!

Claudio Costa disse...

Ótimo o texto da Rosana! Despir-se das aparências e buscar o próprio eu é tarefa quase impossível... mas já vale a tentativa. Mesmo que nunca nos encontremos por inteiro: somos mesmo partidos, divididos e perambulamos entre o Real e o Imaginário.